terça-feira, 10 de junho de 2008

Cerco de Tiro

O prólogo

O sucesso da propaganda de Alexandre ficava mais aparente conforme ele avançava pela costa. Os que governavam Arado, Biblos e Sídon aceitaram o domínio de Alexandre sobre eles e seus domínios. Portanto, eles e seus sucessores emitiram apenas as moedas do rei da Ásia com um monograma do governante ou da cidade em aramaico. Enviados de Tiro encontraram-no em sua marcha e informaram a decisão dos tirenses "de fazer o que quer que Alexandre ordenasse". Alexandre expressou sua aprovação e disse desejar entrar em Tiro e sacrificar a Héracles (cultuado como "Melkart" pelos tirenses). Estes responderam que obedeceriam aos outros comandos de Alexandre, mas que não admitiriam quaisquer persas ou macedônicos em sua cidade. A solicitação de Alexandre fora o ácido teste da submissão de Tiro, feita deliberadamente porque esta era a principal potência marítima na Fenícia e sua flotilha, a mais forte da frota de Farnabazo. Os tirenses consideravam impenetrável sua cidade fortificada na ilha; sua frota trazia suprimentos e eles esperavam ter a ajuda de Cartago. Alexandre convocou um encontro de companheiros comandantes e fez um discurso do qual Arriano dá sua própria versão, derivada de Ptolomeu, que lera o relatório sobre esse discurso no Diário.


A estratégia de Alexandre
Os argumentos de Alexandre tratavam de estratégia. Avançar pela Mesopotâmia perseguindo Dario e deixar a frota persa no mar, tendo como bases Tiro, Chipre e o Egito, seria um ato de loucura, pois essa frota com reforços, com a colaboração de Esparta e com Atenas indecisa "transferiria a guerra para a Grécia", em vez de recapturar portos na costa do Mediterrâneo. Também não seria sensato avançar em direção ao Egito com a frota e Tiro ameaçando as linhas de comunicação. Portanto, era essencial capturá-la antes de tudo. Os resultados disso seriam a desintegração da frota persa por meio do desafeto fenício e da mudança de lado de Chipre, fosse de boa ou má vontade; uma invasão relativamente fácil do Egito; e uma completa talassocracia do Mediterrâneo oriental, com a frota macedônica comandando o apoio das marinhas fenícia, cipriota e egípcia.

Os companheiros e comandantes convenceram-se. Alexandre estava ainda mais confiante porque naquela noite sonhou que Héracles o guiava até Tiro. A interpretação que Aristandro deu ao sonho foi que Alexandre teria sucesso, mas apenas após um esforço hercúleo.


O cerco

O cerco começou em janeiro de 332 a.C. e terminou em julho. Ambos os lados demonstraram imenso heroísmo e engenhosidade. Durante a primeira fase, Alexandre trabalhou com seus homens e recompensou seus esforços com presentes quando construíam um aterro com cerca de um quilômetro na baía, que neste ponto tinha no máximo dois metros de profundidade. Quando a extremidade do aterro ficou ao alcance dos muros da cidade, que tinham 150 pés, catapultas e arqueiros tirenses nos parapeitos e em trirremes infligiram baixas e interromperam o trabalho. Alexandre construiu então torres de duas rodas, com 150 pés de altura, moveu-as até a extremidade do aterro e atacou o inimigo sobre as muralhas e nos trirremes com tiros de catapulta, enquanto os trabalhos para a extensão do aterro continuavam. Mas os tirenses responderam com um enorme brulote, que foi empurrado em direção ao aterro e incendiado com o vento favorável, queimando todas as torres, enquanto tropas de apoio desembarcavam e punham fogo em todo o equipamento de sítio. Alexandre ordenou que seus homens fizessem o aterro mais largo e que seus engenheiros, encabeçados por um Díades tessaliano, construíssem mais equipamentos de sítio e torres. Partiu então para reunir tantos trirremes quanto possível, "já que a condução do cerco parecia mais impraticável enquanto os tirenses controlassem o mar".

A situação no mar alterava-se radicalmente. No outono de 333, a frota persa havia dominado o Egeu com bases em Halicarnasso, Cos e Quíos; mantinha posições avançadas em Sifno e Andros e chegara mesmo a estabelecer uma base em Galípoli, no Helesponto. Parecia o momento perfeito para que os estados dissidentes do continente grego se unissem à Pérsia. Farnabazo trouxe sua melhor flotilha de cem trirremes até Sifno. Mas o único que se juntou a ele foi Agis, rei de Esparta, com um único trirreme, pedindo homens, dinheiro e navios para promover um levante no Peloponeso. Durante sua discussão, chegaram notícias de que Dario havia sido fragorosamente derrotado em Isso (em novembro). Farnabazo deu meia-volta para cuidar de um possível levante em Quíos. Agis recebeu 30 talentos de prata e dez trirremes, mas preferiu não agir no Peloponeso, mas em Creta. No Helesponto, uma frota macedônica e uma flotilha da frota grega capturaram Galípoli e destruíram a força persa de lá, provavelmente em dezembro. As operações foram suspensas pelo resto do inverno, mas chegaram notícias às tropas fenícia e cipriota de que suas cidades, exceto Tiro, estavam nas mãos de Alexandre e sendo tratadas com liberalidade. Com o início da estação de navegação, a frota persa começou a desintegrar. Na metade do verão de 332, cerca de 80 navios de guerra fenícios e 120 navios de guerra cipriotas submeteram-se a Alexandre, que adotara a atitude "o que passou, passou".

Assim, Alexandre conseguiu reunir uma grande frota em Sídon, que incluía dez trirremes para Rodes e dez para a Lícia. Enquanto a frota era equipada para a ação, ele fez campanhas no continente até o Antilíbano, para salvaguardar o suprimento de madeira de lei do monte Líbano. Iniciou então a segunda fase do cerco de Tiro trazendo sua frota e confinando os navios tirenses a seus portos, pois os cipriotas e fenícios, que haviam sofrido nas mãos de Tiro, estavam dispostos a buscar vingança. Fizeram-se grandes esforços para romper o muro que ficava de frente para o novo passadiço, mas os tirenses haviam atirado pedras no mar, no pé do muro, e por isso os navios de Alexandre não conseguiam chegar às muralhas. Essas pedras acabaram por ser arrastadas de lá e navios carregados de aparelhos de sítio atacaram a muralha. Os tirenses fizeram uma investida bem-sucedida contra a frota cipriota em um dos ancoradouros, mas Alexandre interceptou os navios troianos e destruiu a maior parte deles. Com controle completo sobre o mar, Alexandre testava diversas partes da muralha e planejava um assalto para um dia de calmaria.



(O cerco de Tiro)

Tiro é pilhada

Três ataques foram feitos no mesmo momento. Os fenícios romperam os botalós que bloqueavam um dos ancoradouros e destruíram os navios tirenses. Os cipriotas capturaram outro ancoradouro e forçaram a entrada na cidade. Os macedônicos trouxeram navios carregados de máquinas de sítio e torres, rompendo o muro. Esses navios foram substituídos por navios que traziam os hipaspistas e uma brigada da falange, passadiços foram baixados no muro caído e o assalto começou. O primeiro homem a desembarcar, Admeto, foi morto, e depois dele, Alexandre e seus companheiros empurraram o inimigo para trás e abriram uma área de desembarque, a partir da qual entravam na própria cidade. Ali, os tirenses que haviam batido em retirada sob o ataque dos cipriotas reuniram-se às outras tropas e enfrentaram os macedônicos, mas em vão, pois estavam cercados por todos os lados. "Os macedônicos não impuseram barreiras à sua ira; estavam enraivecidos com a duração do cerco e com a matança dos macedônicos que haviam sido feitos prisioneiros pelos tirenses, que além disso atiraram os cadáveres no mar diante do acampamento macedônico." Estima-se que 8 mil tirenses tenham sido mortos durante o cerco e, dentre os sobreviventes, 30 mil foram vendidos como escravos, enquanto outros foram tirados de lá clandestinamente pelos fenícios. O rei de Tiro, seus nobres e alguns cartaginenses enviados para uma missão sagrada foram perdoados como suplicantes no altar de Héracles. Os macedônicos mortos foram estimados em cerca de 400 por Arriano; os feridos provavelmente passavam de 3 mil.

Alexandre prestou então honras a Héracles. O exército desfilou em armas, a frota reuniu-se para inspeção e seguiram-se jogos e uma corrida de tocha dentro da raia de Héracles. Os aparelhos de sítio e os navios sagrados tirenses foram dedicados a Héracles por Alexandre. Assim, confirmava-se a interpretação dada por Aristandro ao sonho de Alexandre e justificava-se a fé de Alexandre nessa interpretação e nas boas graças de Héracles.

Bibliografia

PLUTARCO. Vidas paralelas: Alexandre e César. Porto Alegre: LP&M, 2005.

HAMMOND, N.G.L. O gênio de Alexandre o Grande. São Paulo: Madras, 2006.

Nenhum comentário: